Nas têmporas da mãe Joana

Em cima de uma Baiana ergueram tangas e sombrinhas.
Envolta de seu mamilo, ofereciam água de coco geladinho e uma bela vista pro mar.
Um artista lhe arrancava da pubis os frutos da criação, que dim boca em boca, perdia o sabor.
Em baixo de suas unhas as crianças escavavam a saudade e o pesar.
Nos olhos, encontraram uma mina de diamantes – por falta de tino, depredaram-lhe os cílios dourados, provocando pragas e enchentes até a região dos Lábios.
As ovelhas morreram entre os poros, no reflexo de seu sangue, alguns juravam enxergar anjos, outros, demônios. Mas os cientistas comprovaram, apenas enxergavam a si mesmos.
Uma vez por ano, celebridades realizavam eventos nas fossas nasais, uma forma de  arrecadar dinheiro para reparar os danos.
Os grandes alpinistas deixaram de escalar a barriga, havia sempre um mal-estar prosseguido por fortes golpes de vento.
O último fio de esperança caiu por terra quando os arqueólogos trouxeram a notícia: é estéril a Baiana.
A crise veio a tona, empresários se afundavam na remela até os joelhos; Políticos já não tinham mais planos, o jeito era mesmo fugir, caçar um nova Baiana.
E lá foram, com colônias de automóveis colonizar outras tranças.

10 bilhetes que fingem ser amor

I.
Joana, você foi lá em casa e brincou com
todos os meus velhos brinquedos
Desde então não consigo mais brincar
II.
Lucas, demorei pra perceber que eu
nunca quis ganhar nenhuma discussão
Desculpa
III.
Paula, você gosta de sadomasoquismo
e quiabo
nunca conheci ninguém assim
IV.
Leo, ainda sinto o cheiro
do seu vomito no meu tapete
o estranho é que não incomoda
V.
Cara Sara, você me chamou pra beber
só pra dizer adeus
E nem pagou a conta
VI.
Querido João, você adora pão de mel
Mas eu já adorava pão de mel muito antes
Escolha outra coisa para adorar
VII.
Ana, conheci muitas Anas
Mas só você puxava o meu cabelo
Agora eu tô careca
VIII.
Vítor, a gente se conheceu com minha
pele eclodindo e você me chamou de bonito
Te dei meu número e até agora você não ligou
IX.
Laura, você roubou o meu casaco
Não preciso de tanto calor e conforto
mas também não queria ficar louco
X.
Henrique, meu olhar era só carência
Você confundiu com outra coisa
Agora eu tô confuso

Poemas Sem Luxo

I.
Mariana com o deserto no cabelo e a vassoura na mão
Espera por um homem que nunca vai voltar. Talvez ele volte.
A chinela de rasteira no dedo está cansada
A vida parece uma paisagem pintada
Onde não coube a minha silhueta de mulher
Vastos olhos de homem me amedrontam
Só amei uma vez
E gostaria de nunca mais amar de novo
Numa árvore de monóculos
Os pássaros zombam de mim
Serafim é o primeiro a dizer
Fim.
Antes do verbo chegar

II.
Assombroso
O Sol se levanta para as menininhas brancas da América
Ensinaram pela metade o abecedário pro muleque
Que queria jogar futebol
Esperaram ele voltar depois da queda do Alemão
Ele, com seus quarenta carbúnculos de idade
Corria para vencer o juros
No revezamento 3×4
Das Olimpíadas no Rio de Janeiro
As menininhas choraram
Pois o Giba não estava para apanhar a bola
Quando ela bateu no chão

III.
Minha filha, agradeça
Por não se chamar Philomela
Por ainda ter a língua na boca
Por rodar bambolê magreza
Desfilar coxa de telenovela
E não se chamar
Philomela

Se te cortarem os cabelos
E de brasa a força estrangalharem teu fogão
Não foi por causa do nome
Foi a fome que bateu na educação

IV.
Sonho com um mundo
Feito de estradas
Distraída me esqueço
De virar na rua de Fevereiro
E o que me resta
É uma sala apertada
Onde um finge ensinar
O outro finge aprender
Enquanto escuta as marchinhas
Deformadas no seu porta TV

V.
A noite foi longa
Durou uma vida inteira
A festa em que as Musas foram convidadas
Estava vazia
Veio a esperança me bater a porta
Descomedida
Onde já se viu!?
Mandei ela pro diabo

VI.
O porteiro não é mais um porteiro
Ele é um homem com celular.
O estudante não é mais um estudante
Ele é uma aberração da tecnologia.
O bebê pode ser um bebê
Ou pode ser um robô
Só tem quem encomendar.

VII.
Displasia carioca
Odeio doenças
Parecem preocupações que se tornaram verdade
Cidade, cidade,
O prefeito disse que ela
Foi andar descalça na rua
Tomou tiro no peito e no joelho
Pra aprender que se quiser ser preto
Tem que se vestir direito
Jogar hidróxido no cabelo
Dançar no asfalto até a Lei dizer
Para
A inscrição na porta dizia
This is not Africa
Os turistas se confundiram
Levaram embora a pompa dos ducados
E foram buscar outras colônias para fazer de tapete

VIII.
Eu tenho duas mãos
E uma vontade danada de fazer besteira
Tá tudo dando errado
Meu carro quebrado
Meu seguro cortado
Meu marido desempregado
Meu filho desplanejado
Minha irmã me disse,
Vai, Carla! ser vadia na vida
Te ensino a ganhar os trocados
O trabalho é mole com certa dureza
Ajuda se você gostar
Ou falsear na hora da prensa
Porque homem que é homem mesmo
Nem liga pra o quê a gente pensa

IX.
Tem um papagaio
Dentro da minha cabeça
Ele queria algo mais privado
Mas dei de falar tudo o que ele pensa
Hoje ele vive solto
Nas páginas virtuais dos monges colombianos
De um salto ele surge
No café da manhã
Preso no computador
Tento não olhar
Não dá,
Tem outros papagaios querendo falar
Me acalmo
Me esquivo
Pro meu apreço
Ainda existe uma gaiola lá

X.
Um homem gritou
Vai se foder!
Meme de cú é rola
Capitalismo de cú é rola
Filosofia de cú é rola
Mito de cú é rola
Quando acabou,
Voltou para sua caverna
E ficou a desenhar enormes manadas de feras
Amanhã tinha caça
Que mal amanhã lhe esperava

NO SHOULDER PAT

I am not heartless
but something happens to you when you love a thing so much
a little rotten by the sides, a little muzzled in the top, a little scratched in the backs
make up on my pains everyday
until i forget them
shade the past with leaves of autumn past
stupid past
stupid detectives of thrillers and cultural mass
let the criminal breath at least
he only takes for he has lost
the tragic loss
of a beast’s heart

I shared nine lives with you, only one survived.

my father comes in the room
braving his shadow at noon
slaying some lies with his broom
telling me to rise, clean the dust out of my shoes
No use to be gloom, boy
There will be others, you’ll see how soon

Raving my elbows
Checking my spasm
Hearing the song
I heard dead last March
the bells are ringing
The sheets are white
Here comes the bride
She holds her smile tight
She knows future keeps sadness in closets for surprise

Nervous as I am, unforgiving as I am, unbearably honest as I am
I tell her my truths
She hates the poor actor that I am
You could’ve put up a show
You could’ve let the lights glow
Oh, what a tragic demise
Knowing what I know
Too huge a paper
To sign at the bottom left
Us. A failure.

Give me my burrows back
Give me back my smokes and fogs and landscapes of the west
Those were my dreams you shattered on the floor
Those were my dreams you sheared you foot on
Those were my dreams you whipped clean the beauty off

No embroidered cloths. No gold. No silver. No lights.
Only glass.

Ridiculous I was to love you most
And in the stillness of your laugh
Suffer still
Suffer silence
Suffer regret.

I shared nine lives with you, lost at the count of why.

Here comes mom, telling she was right again
Right even before men knowing what rightness was then
Telling life gives no shoulder pat
You need to be erect
Raise your chin, give memory no respect
You could be king, a prince adviser at best
But please, be aware you are wearing the fool’s hat.

So said the sign that mom read.
The road was dark and bawdy
We heard the night sing
Squalor squalor squalor.

Anacoluto

Nasci, tive vergonha de todas as minhas falhas. Um anacoluto desgarrado, que mirou longe demais e nunca teve certeza do alvo. Eu, se dissesse que todas as minhas escolhas foram por parcimônia, que vergonha. Sempre tive medo do Inegável, mas fui mestre do engano – virava olhos olhando por dentro e me sorria o sorriso que dizia tu és perfeito. Hoje o que sinto só poderia se traduzir num verbo aorista da azia, o estômago que se torce para digerir tamanhos. O Sol já tinha se despedido, eu, de grandeza despido. Veludosas vozes vulcânicas, não preciso de ninguém para me dizer que sou pequeno. Só já sou bastante. Um vasto ponto numa folha em branco.

Morri, procurei por linhas a quais me agarrar, curvas, precipícios, qualquer forma que a mim somasse. No caminho vi surgir letras, que traços! Marcavam o desespero de uma nova era – a quem se juntar, quais palavras abraçar, o bacanal das melodias, o estupro harmônico da alma, como alcançar o sublime estado de ser? Pueril. O contente sonho de para sempre se sonhar criança, se sonhar feliz sem saber. Mais que sonhar, si acreditar. Das dúvidas me preenchi, dos oceanos me usei, refúgios. Bastante obstante, ponto vim ao mundo e ponto parti.

Nasci, caminhava como se já conhecesse o antes e o depois. É fácil: ou tudo é erro, ou tudo é acerto. Sentei nos bancos mais baratos, aquele que mal se vê o palco, que se relanceiam as atuações, e mesmo assim sentia, jogarem os discursos de lá para cá. Aqui e ali. Hither and thither. Comme ci, comme ça. Pro quiproquó da fala. Foi divertido, algum cão latindo me fez esquecer o conflito. O mais doce da vida é se distrair dela. Por isso música, que não é nada, senão intervalos. Perto ou distantes não importa. São intervalos. Alguém respirava conscientemente quando saí da sala, estava tão focada no presente que nem notou o despencar da bolsa de valores.

Morri, detestava as propagandas. O ápice da civilização. Vermes do intelecto pululando mentes, buzinas e estrondos entorpecendo células brancas, e no que parece um milagre não planejado, os pés incidem na comodidade do ruído. Numa brincadeira mal planejada, tudo pede para ser olhado, observado, com presteza atenção. Fui cego de dois olhos: o de dentro e o de fora. Um desgraçado desagradável, morri. Fazendo sorrir alguns e poucos, não me disseram, porém pensei. Fiz de mim o que não soube, e o que podia fazer de mim não fiz. Que besteira.

Pererê caixa de fósforo

Quando a hora for certa, você saberá que já tem muito janeiro.  Eu não me ligo muito em janeiro. Mas agosto é quente em alguns nortes e as coisas que têm que acontecer, acontecem. A menina que fala bruto e tem sorriso derretido diria que essa minha resenha já ta muito ré. Ela disse assim mesmo, que ta ré. Mas veja bem? Um dia eu aprendi que a verdade das coisas é não esquecer e, então, comecei a olhar muito as pessoas nos olhos. Isso é coisa de grego. Mas gregos só ajudam a fazer tese, pois sempre se esquecem dos cantos das musas e criam pandoras pra agradar. Qual foi a última vez que você olhou dentro dos olhos de uma pessoa? Pra mim os astros estão sempre retrógrados. Minha mãe diria que ela é de Áries e que não se afeta com isso, e pererê caixa de fósforo (lê-se etcetera). A vida da minha memória existe há quatro ou cinco anos. O resto é como encontrar instantes numa pilha de folhas secas ou diferenciar os tipos de árvores do cerrado. A não ser que seja pé de manga, que é um pé formoso. Aqui as mangas são também formosas e lambuzam minha boca como um seio feminino. A memória é o caminho cheio de vida que o poeta toma pra desemborcar na morte. Quando forem muitos janeiros, eu vou me esticar ou me encolher? Não sei, eu gosto de coisa que enruga: ruga, cabelos, suas palavras duras. E quando forem muitos agostos, será que eu vou perceber?

A Pregação das Ondas do Mar

Se você quer sobreviver nesse mundo, aprende a dançar

Quando o relógio bater as horas vazias, pegue sua natureza vagabunda e se desfaça dela. O ninho, estranho no berço, mais estranho será no recomeço. Cative os outros com a mesma efemeridade dos significados das palavras: cada dia é um amor diferente. Dobre e torça suas expressões, até que elas caibam numa sentença que fuja a morte. Repita, repita, repita o que for de bom gosto. Ouça a corneta dos anjos que não toca para ninguém, a não ser você. Repita, repita, repita tudo aquilo que sua mãe Sofia lhe disse para fazer, nunca faça. O saber te engana. Sobe na sua cama, a consciência reclama, ela não precisa acordar. Uma vida dormida também é vida, e quem sabe mais vivida na cama. Ama a teus lençóis com o mesmo amor a pele e a luz que da cortina espia. Tenha em mente o grau das almas que jamais poderá medir, treina fingir, treinar pregar sua presença. Dialogue com as cadeiras, elas sempre estarão sentadas para te ouvir. Dê bom dia as flores, quanto mais venenosas, mais solitárias elas são. Ama a tua própria solidão, quando te esqueceres dela, não serás mais livre, há sempre uma sombra amarrada em teu pé. Tu carrega uma sombra, assim como a pedra também carrega a dela, mas apenas tu conhece o peso da tua. Tu achas que conhece. Já que as outras sombras lhe são tão estranhas, tão tolas e levianas, vivem numa leveza.

Se você quer sobreviver nesse mundo, aprende a dançar.

Toma o chá de manhã, se precipite na embocadura da espuma, deixe ferver a boca e agradeça ao arroubo de calor de toda manhã. Olha pro Sol e sente pena, ele é um coitado, toda manhã também é roubado. A vida é a maior ladra de todas, tira de alguns para dar aos outros. Tu também é ladrão, ninguém vem ao mundo santo. Jesus era um pobre coitado, achou que te livraria do pecado, mal sabes que tu nasceu sentado chorando querendo voltar pro antro. Todo berço é estranho. Não tenha duvidas! A dúvida é o maior erro necessário regularmente cometido. Saiba disso. Quando souberes, sentirá se livre para rir da seriedade das camélias – que séria não nasceu, foi trabalhada pelas mãos dos homens. Quando souberes, lembrará de tua mãe – que séria não nasceu, foi deformada pela força do tempo. Quando souberes, será superior aos seus pés atrofiados, velhos, limitados – tu dançaras em todo lugar, até onde não foi feito para dançar. Toda manhã tu acordarás tonto, de tanto giros que deste ontem, e de novo, o berço lhe parecerá estranhamente familiar. Tu tomarás o chá, e sem ter que pedir, a música começa a tocar.

Se você quer sobreviver nesse mundo, aprende a dançar.

Ele colocou a sela no cavalo de sapatos abotinados. Esse é um escravo, ele disse. Mas olha com teus ouvidos como pulsa perfeito o compasso. Ele dança sem nunca ter pensado a vida. É uma peça, o ator, o artista que jamais veio a saber o que é o palco. Vê? É a mesma jaula, e ele nos ilude tão perfeitamente. Corre, marcha, pula, come, voa encantadoramente. Esse ator, esse cavalo, que nome posso dá-lo senão Liberdade? Vem, me ajuda a limpar suas cristas que elas andam tão sujas e feias. Sabe, vou ter que vendê-lo um dia, é assim que te sustento, é assim que continua a fazenda. Preciso que ele esteja bonito. Quanto mais alto a beleza, maior o preço da venda. Eu sei, tu ficas triste, mas eu me contento. Olha para o lado, aquele corcel negro que vem lhe afagar – velho, pobre e doente, com esse tu sempre poderá ficar. Tem uma ferida no casco, não me presta o trabalho, mas olha como é amigo e bonito, ele te ensinará a dançar. Carregue o Sonho para longe, vá brincar, quando for a hora eu venho te buscar para o almoço. O corso do cavalo junto ao seu osso, atrás das figueiras, quem dirá que são duas coisas? Viva quantas realidades tiver que viver. Mas quando a hora chegar, eu te chamo pra jantar. Vou por tua mãe num prato de ceviche, vê se come com gosto.

Quando a aula for paga, vem pros meus braços descansar.

Um dia você tem que aprender uma coisa. Eu devia ter te falado que a tua mãe não é a tua mãe. A tua mãe é o mar. Tu vê aquelas costas? Gozadas? Tu vai chamar de Maceió. E ali, aquelas bundas, cheias de suntuosidades? Lá é onde todas as mãos gostam de passar, e a cada toque que lhe prestam nasce um morro novo, e cada morro um relevo, que nem o morro mais se conhece. Eu chamo aquela terra Pai, pois foi ali que colocaram o filho, e do lado o Espírito Santo. Se ainda tem algo de sagrado ali eu não sei – do que já foi profanada aquela terra, todo dia é uma foda nova. Doí, mas ela parece que gosta. E ninguém deveria mexer com o gosto do Pai. Às vezes eu tenho raiva do Pai, e queria me mudar. Me sinto abandonado, desprotegido. Aprendi que o Pai era o medo e a bondade. É por isso que eu digo, o meu berço foi um tanto estranho. Pai que era bunda que era mãe. E as costas ali, sempre sofrendo? É difícil perceber o corpo inteiro, e quando sinto que é tudo uma coisa só, meu cérebro começa a dar defeito. Tenho que recomeçar. Repito, repito, repito: o sonho me ensinou a dançar.

Todo dia é Dois de Fevereiro

Chegou, chegou, chegou. Afinal o dia dela chegou. Vou me embora daqui, não antes de me despedir. Quanto nome tem a rainha do mar? Quanto nome tem a rainha do mar? Mamãe, eu vou me embora, não antes sem chorar. Deixo a calma molhar a ponta dos meus pés, sentir a paciência da areia do mar. Sei que desse meio devo me separar. Aprendi a dançar, agora vou aprender a ser onda do mar. As ondas se propagam silenciosamente, com graça e ligeireza, porque nada as detém nem elas são prisioneiras da nostalgia. Uma sequência de intervalos e te dou a música. Uma sequência de separações e te dou a vida. Seguindo a imagem dessas ondas sucessivas. Hoje eu esqueço que tenho duas mãos. Para que ter duas mãos? Eu tinha duas mãos e nada mais. Aprendi a dançar, pegar essa coisa chamada memória e sem meiguices a magoar. Tudo vai se repetir e nada nunca será o mesmo, agora eu, onda do mar. Quando o relógio bater as horas vadias, toda natureza vagabunda vai ser onda e se quebrar.

Canto para Iemanjá

Se você quer sobreviver nesse mundo, aprende a dançar
Se você quer sobreviver nesse mundo, aprende a dançar
Se você quer sobreviver nesse mundo, aprende a dançar
Quando a aula for paga, vem pros meus braços descansar
Todo dia é Dois de Fevereiro

Dez poemas rasos e desconjuntados sobre A Incerteza

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I. A incerteza é uma figura de uma perna só
O balanço dos galhos se atrapalha
corre cansa em apanhar
O rabo desenha figuras
Geométricas indispostas
Deixa um rastro de resposta
E morre perdido
Na sua casa labirinto
Aminotauroacidou-se

II. A incerteza
não se satisfazendo
inventa outra língua
Cismando que nessa
Será mais direita

III. A incerteza
alvo furado
labirinto quadri universal
galinha que voa
cabeça dentro da boca
refúgio sombrio
receita intelectual kandiskiana
suplemento prometeico

Tudo tudo metáfora barata
Começar de novo?

IV. E se eu for um ovíparo que mama?
Ornitorrinco
E se eu for um vivíparo co’escamas?
Tubarão-lhama
E se eu não for nenhum dos dois
Há incerteza

A certeza é muita mutreta
Pruma certidão só

V. A incerteza,
Tereza
Não é uma nega
É você ser flafla
E não ganhar nada nada

VI. A incerteza é um chien andalou chinês
Filha do burrinho pedrês

VII. A incerteza
É tão cheia
De si
Que é tão cheia
De nada
A certeza pelo menos tem fé
Mas que também não anda com a cotação alta

VIII. A incerteza
Se trepasse
Ia ser um gozo tão cheio de dor
Mas já sendo
Porque não sabendo
Arrependimento

IX. A incerteza
É fonte que bebe e não sacia
Ainda bem.

X. A incerteza
Tenho certeza que se eu monetizar
Fico rico
Mas um belo dia
Andando na rua
Cheio dos despropósitos
Um caminhão passou dentro do meu corpo
E me descobri poeta
Daí dava de graça
As incompletudes
Mas ninguém queria
Então fui fazer engenharia
E ser mais um, ganhar a vida
Mas a faculdade era pública
E entrou em greve

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(rabiscos do meu caderno mal photoshopados, tirados com foto de celular. nunca tinha feito isso, mas desenhar antes de escrever foi bom)

Nobody cares for translations

Ma Mignonne

Let them hundred flowers bloom

I hope they unveil

A little part of you

I cannot translate

The love one has felt

When it’s too late

Too soon to say

I see you

I see you sitting there

With your legs crossed

Paying attention to the robotniks of life

To the hardened kindred spirits

Stone fleeted

Labyrinth minded

Dream faded highlands of time

I see you

See you there

With your

Oh so so pretty hair

Bobbing while you nipper at the tips of my stare

You see a poem

I see a painting

Resting there

Do I?

See you

See you but do not dare

Forward share what it is a reflection

Bemused consternate compassion of inward fear

And if everything is a mystery

And the eye is the great tricker hat

Which lies on top of its lap

When we die?

Will I

See you

See you there

For my sweetest Damoyselle

With all our finest get well and farewell wishes

Clément

Douglas

Douglas’s Mom

And the other one hundred flowers

CHINA’S ANCIENT WORK DATABASE

(mais um da série de textos surgidos a partir de músicas, a da vez foi essa, feito pare ser lido junto / made to be read with)

Deep in the meadow
Where justice has no face
A group of women gather
They cleanse souls by their waist
Soaking clothes and feelings within the river’s wake
Do they slave, the wind whispers and goes away

Such sheepishly synchronism satisfy
The rattle of the bones
Come sounds of tweaking twigs and twines inside
For a second the figure of a boy appears
Summed or summoned by
The world destroyed
The ball in his arms is now rolling hard
He holds the world’s heart in his mouth
Such a threat, it can fall any minute now
He holds the river’s gaze with his feet
Such a sprout, a runner, no trying to keep the eye’s wit.

And the river smiles and obeys
When the boy says
It is time to stop and flow the other way
The women harness silence
They still play a role
But whether to keep or not cleaning their clothes
They do not know
The ball falls in and floats in reverse
I hear them birds are singing
Sending chills on them dusty bones
Awake thy women!, hear the laughter
Of the sun, preoccupy thyselves only
With what thy hath to learn from yer sons

The boy gets the ball without
Laying one finger in the river’s fur and fleas
Way into the meadow
Catching on with the last of summer’s breeze

The women say goodbye whilst forgetting the land’s deeds and pleas and prides
Whimsical truth and lies
You never know which tide the river sides

China meets and strives
With the remainders of the world’s ancient work database
Will the future bring us new songs?
With the burrming of erhu, pipa, guzheng and dizi flutes?
Will history be brought back to life in the hallelujah mountain’s sight?
The world whirls, cries and chimes
It does not want to sing songs
Of craft and love
Starve no more
Thus it is time to be put to bed
And China is kept where it rests
Deep in the meadow
Tangled up in the web
Cradled and broken by theirown’s and some USA global nest.

The women say goodbye whilst knowing time has not yet come
In truth, the child is still in the belly
Harvesting strength, fighting demise
Awaiting the birth of a-new stallion
Running a-far and wise
A-free from one thousand and three hundred and fifty-seven billion sappy tearful lines.

I hear them birds are singing
Do they suffer while they sing?
Hence their loveliness begetters time and reason and
Men likewise?
I do not know
My dress
My soul
Everything is soaked
I put them up to dry
Together with the women’s right and fairness for life.
May it dry
May future be warm and bright.

As we walk out one evening
Where desire does not meet salvation
And the river awaits for its salute
I lay with the boy
Alas
At least we are both blessed
Filled with joy.